quarta-feira, 25 de abril de 2012

ROTA DO ROMÂNICO

Mão amiga fez-nos descobrir a ROTA DO ROMÂNICO DO VALE DO SOUSA, através de dois documentos: uma excelente e valiosa publicação sobre o tema onde o românico é tratado com minúcia e onde são descritos os monumentos constituintes da Rota e um precioso guia prático sobre o mesmo assunto, indispensável para uma abordagem fundamentada aos monumentos que se visitam. É deste guia e do site Internet da Rota (http://www.rotadoromanico.com) que são extraídos muitos dos elementos que constituem a publicação deste post ( estes apontamentos serão apresentados em itálico no texto).
Logo surgiu a ideia de abordar esta Rota viajando em autocaravana. Para isso contámos com a preciosa ajuda da nossa amiga Dra Rosário Correia Machado, digníssima Directora da Rota e dos seus colaboradores Dr. Joaquim Costa e Miguel Augusto que nos fizeram apreciar os monumentos de forma mais esclarecida.
O estilo românico surge em Portugal no final do século XI. A expansão deste tipo de arquitectura, em Portugal, coincide com o reinado de D. Afonso Henriques. Sendo uma arquitectura predominantemente religiosa, o românico está muito relacionado com a organização eclesiástica e com os mosteiros das várias ordens monásticas, fundados ou reconstruídos nos séculos XII e XIII.
Em Portugal a arquitectura românica concentra-se, essencialmente, no Noroeste e no Centro, sendo coeva do período em que se estrutura o seu habitat, com as freguesias e toda uma organização religiosa e vicinal de aldeamentos.
Nestas terras habitaram algumas das famílias nobres do início da Nacionalidade, como os Ribadouro, da qual descende Egas Moniz, o famoso aio de D. Afonso Henriques, cujo túmulo pode ser visitado no Mosteiro de Paço de Sousa, os Sousa ou Sousões e os Baião.
A riqueza da arquitectura românica da região é também evidenciada pela diversidade de tipologias, expressa nos monumentos que compõem a Rota do Românico: mosteiros, igrejas, ermidas, pontes, torres e monumentos funerários.
Depois das já descritas visitas a Madrid e a Ávila e de uma permanência para descanso em Mêda e Amarante iniciámos a nossa Rota propriamente dita: começámos por pernoitar no parque de estacionamento frente ao Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
O Mosteiro de Pombeiro é fundado, segundo a tradição, em 1059. Em 1112 é concedida Carta de Couto ao Mosteiro, significando que aquelas terras são dotadas de particulares privilégios e de justiça própria. Pombeiro é, todavia, uma das mais antigas instituições monacais do território português, estando documentada desde 853. Em 1041, o Mosteiro sofre a transferência para a sua atual localização, sendo erguido o primeiro conjunto a partir de 1059, monumento do qual nada chegou até aos nossos dias. No entanto, é neste período condal que ocorre a já referida doação de D. Egas Gomes de Sousa e a concessão da Carta de Couto de D. Teresa. A localização do Mosteiro, na interseção de duas das principais vias medievais da época – uma que ligava o Porto a Trás-os-Montes, por Amarante, e uma segunda que ligava a Beira a Guimarães e Braga, atravessando Lamego e o Douro em Porto de Rei – evidencia a significativa importância deste conjunto monástico Beneditino na região. É nestes espaços que os reis se instalam nas suas viagens e nos quais os peregrinos se albergam e recebem assistência.
Estrada Romana nas imediações do Mosteiro
Já na Idade Moderna, Pombeiro foi objeto de profundas modificações, a maioria das quais ocorridas no período Barroco. Uma das alas do claustro data de 1702, século ao longo do qual se realizaram a nova capela-mor, o coro alto, o órgão, as numerosas obras de talha dourada, as duas torres que flanqueiam a frontaria e uma parte das alas monacais.
Os claustros foram alvo de remodelação nos inícios de Oitocentos, com uma campanha neoclássica, interrompida em 1834, com a extinção das ordens religiosas.
O Mosteiro de Pombeiro, exemplar de arquitetura religiosa, românica e setecentista, é constituído por uma igreja românica de planta longitudinal de três naves com arcos diafragma, falso transepto e cabeceira tripla, reformada na época de Setecentos. O monumento possui uma planta com desenvolvimento longitudinal, acentuado pela grande profundidade da capela-mor. A fachada principal, orientada a sudoeste, encontra-se enquadrada por duas torres sineiras, rematadas por coruchéus, e conserva o portal românico de cinco arquivoltas, assentes em capitéis lavrados. Este é encimado por uma grande rosácea, emoldurada por colunas e arcos românicos. O interior, de três naves, mantém os absidíolos e duas arquetas tumulares.

Algumas imagens do Mosteiro:




O cadeiral em jacarandá do Coro alto
Após a visita continuámos a nossa viagem fazendo uma pequena interrupção, de carácter arqueológico, na nossa Rota para visitar a Citânia de Sanfins.
Esta é uma das estações arqueológicas mais significativas da cultura castreja do Noroeste peninsular e da Proto-história europeia. A vasta panorâmica sobre toda a região de Entre-Douro-e-Minho, que dela se abrange, terá sido factor estratégico determinante do desenvolvimento deste importante povoado. A observação das suas áreas de influência permite questionar a formação deste “lugar central” no quadro da rede de povoamento castrejo regional.  Tudo indica ter sido escolhido, na sequência de uma campanha militar romana (138-136 a.C.), como capital dos povos Calaicos, dos Brácaros, situados na margem direita do Douro. Este sítio era já conhecido, tendo sido detectados elementos vestigiais mais antigos. Suspeita-se de um fundo pré-histórico do período calcolítico e achados de escavações documentam ter sido habitado por uma pequena população entre os sécs. V e III a.C. na parte superior da colina, O grande aglomerado da Citânia, terá resultado, porém, da congregação de diversas comunidades limítrofes por motivos estratégicos.

De regresso à Rota dirigimo-nos a Ferreira para visitar o Mosteiro de São Pedro de Ferreira onde desfrutámos de  uma visita guiada pelo Dr. Joaquim Costa, mas também pela Dra. Rosário Machado que ali nos deu as boas-vindas.
A origem da igreja do Mosteiro de São Pedro de Ferreira remonta ao século X, tendo por base a referência que lhe é feita no testamento de Mumadona Dias, datado de 959. O templo atualmente existente começa a ser construído em 1182, podendo  identificar-se elementos de uma primeira igreja românica que terá sido construída entre finais do século XI e inícios do século XII.
Este monumento constitui um caso único no românico português, ao ser precedido por um nártex cercado por um muro, um campanário de dois vãos e cimalha de duas águas. Esta estrutura corresponderia à anteigreja de função funerária. A planta do Mosteiro é composta por uma única nave, com cabeceira abobadada, organizada em dois tramos, sendo o primeiro mais largo e mais alto. Esta é uma característica muito particular do Românico do Alto Minho.
A nave, cuja altura do seu corpo está impregnada de espacialidade protogótica, está coberta a madeira e a cabeceira, internamente, apresenta-se poligonal, enquanto no exterior é semicircular. A sua invulgar altura provocou a colocação de contrafortes no exterior e colunas adossadas no interior. A capela-mor, relativamente alta, é composta por dois níveis, um primeiro de arcadas-cegas, duas das quais em mitra, e um segundo com alçado em arcadas que alternam com frestas. Invulgar no estilo Românico português é a existência de um arco toral na cabeceira apoiado em pilastras salientes adornadas por escócias.
O portal da fachada principal está inserido em corpo pentagonal, enquanto o portal ocidental, amplo e muito bem desenhado, revela quatro colunas de cada lado, duas delas prismáticas. A decoração é executada por intermédio de um recorte torneado no extradorso das arcadas, acentuado por um largo furo.
Os capitéis dos portais laterais são de grande qualidade, uns apresentando laçarias e animais, outros em decoração vegetalista. As fachadas laterais foram rematadas por uma cornija formada por pequenos arcos assentes em mísulas.





Terminada a visita a Ferreira dirigimo-nos a Guilhufe para serviço da autocaravana e pernoita. Constatámos os melhoramentos efectuados na freguesia desde a nossa última visita aquando da inauguração da área de serviço. Os melhoramentos são visiveis ao nível do parque paroquial e das acessibilidades. Parabéns e agradecimentos ao Sr. Vitorino, Presidente da Junta de Freguesia, que mais uma vez nos recebeu com amizade e dedicação.
De regresso à Rota, desta vez por nossa conta mas com indicações bem precisas, recomeçamos pela Igreja de São Vicente de Sousa.
Monumento de arquitectura religiosa, edificado segundo a corrente românica e barroca, São Vicente de Sousa é uma Igreja de planta longitudinal, remodelada planimetricamente no século XVIII e decorada interiormente em estilo barroco.
A Igreja é constituída por nave única e capela-mor rectangular, possuindo ainda uma torre sineira, erguida ao modo de um muro, adossada à fachada sul da capela-mor.
Na fachada principal, virada a ocidente, abre-se o portal, inserido em estrutura pétrea pentagonal, e saliente, para que o pórtico possa ser mais profundo. As fachadas laterais são rematadas superiormente por arquinhos sobre cachorros lisos, onde assenta a cornija. Nos muros abrem-se dois vãos de iluminação, cujo perfil indica a sua abertura na Época Moderna. Na fachada norte, o portal é constituído por duas arquivoltas e tímpano com a representação de uma cruz circundada por entrelaços, contrastando com o portal da fachada sul, de estrutura simples e tímpano liso.
Nas construções medievais é habitual encontrar os claustros a sul, do lado do Sol, organizando-se os aposentos monásticos em seu redor, nomeadamente a Casa do Capítulo, o refeitório ou o dormitório. Nesta Igreja, de facto, pode apreciar-se que na fachada sul, a meia altura do muro, correu um lacrimal sobre mísulas, elementos que comprovam a existência de um alpendre de uma água ou de um claustro.
Duas inscrições na Igreja de S. Vicente de Sousa, da época românica, permitem conhecer a sua história. A inscrição comemorativa da Dedicação da Igreja encontra-se gravada na face externa da parede da nave, à direita do portal lateral norte do templo, revelando que a Igreja foi sagrada em 14 de agosto de 1214.
Já a segunda inscrição é mais antiga, de 1162, correspondendo a uma inscrição fúnebre ou comemorativa da construção de um arcossólio. A ser, de facto, uma inscrição funerária, trata-se do exemplar mais antigo registado.





Convém informar que muitos dos monumentos da Rota se encontram a escassos quilómetros uns dos outros. Daí que em poucos minutos nos encontrássemos na Igreja do Salvador de Unhão.
Exemplar de arquitectura religiosa, esta Igreja românica possui planta longitudinal e nave única, datada da primeira metade do séc. XIII, remodelada planimétrica e decorativamente nos séculos XVIII e XIX. O Salvador de Unhão é um importante templo religioso, reflectindo a importância e o alcance do processo de povoamento da região ao longo do século XIII.
Apesar das transformações que foi recebendo ao longo do tempo, e que alteraram a construção românica, conserva-se a epígrafe que regista a Dedicação da Igreja, em 28 de janeiro de 1165. Esta inscrição constitui o mais antigo testemunho da sua história, já que as referências documentais  conhecidas não são anteriores a 1220.
De modestas proporções, Unhão possui uma única nave e capela-mor rectangular, cujo maior motivo de interesse reside no seu portal principal, inscrito em gablete e composto por quatro arquivoltas de arco de volta perfeita, decoradas com motivos geométricos e vegetalistas, enquadrando um tímpano preenchido com a típica cruz vazada de tradição bracarense.



Assinatura dos Mestres construtores
Mais um pequeno percurso para alcançar o próximo objectivo, a Igreja de Santa Maria de Airães.
Este monumento é um belo exemplar da arquitectura religiosa românica, gótica, seiscentista e rococó. Santa Maria de Airães é uma Igreja de estrutura românica, orientada, de planta longitudinal, de três naves, cabeceira quadrangular simples e torre sineira adossada à fachada lateral da capela-mor.
O actual edifício não corresponde à data de fundação da Igreja, a qual está documentada desde 1091. Nas Inquirições de 1221 a Igreja surge como ecclesia de Araes, no Julgado de Felgueiras.
Há registos da existência de uma inscrição junto ao púlpito, entretanto desaparecida, referente ao ano de 1184. O aspecto tardio de alguns dos elementos da sua construção aponta para um edifício do final do século XIII ou mesmo do início do século XIV.
As sucessivas alterações que a Igreja foi sofrendo modificaram-lhe o carácter inicial. As remodelações sofridas entre os séculos XIII e XIV introduziram-lhe elementos arquitectónicos e gramática decorativa inspirados no gótico.



Aproveitámos o muito agradável adro da Igreja de Santa Maria de Airães para almoçar descansadamente na nossa "casinha".

Depois de almoço mais uma meia dúzia de quilómetros e eis-nos na Igreja de São Mamede de Vila Verde.
Vila Verde é um edifício de arquitectura religiosa, sendo uma Igreja românica tardia, de planta longitudinal, composta por nave única e capela- A orientação da Igreja segue as regras canónicas, ou seja, com a fachada principal orientada para Ocidente. A cabeceira rectangular, seguindo o habitual esquema da arquitectura medieval portuguesa, assume a função paroquial e é mais estreita e baixa do que a nave.mor rectangular. Existem vestígios de revestimento a fresco na capelamor.
Os documentos mais antigos referem a existência da Igreja de São Mamede já em 1220, na altura integrando o padroado do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
No entanto, o actual edifício corresponde a uma reforma mais tardia, já em plena época de influência gótica, apesar de recorrer ainda à construção românica. Alguns apontamentos de frescos que ainda hoje são passíveis de serem admirados na capela-mor foram pintados, pelo Mestre Arnaus, no século XVI. Na nave é ainda visível o revestimento a reboco decorado com pinturas. O santo padroeiro era S. Mamede.


Terminámos o nosso périplo na Torre de Vilar.
A Torre de Vilar é um monumento de arquitectura militar e civil particular. Foi residência senhorial fortificada do século XIII/XIV, de construção românica, constituída por uma torre que conserva cinco andares.
A Torre de Vilar, construída entre a segunda metade do século XIII e o início do século XIV, evidencia o poder senhorial sobre o território, sendo um testemunho da existência da domus fortis, uma residência senhorial fortificada no Tâmega e Sousa.
Existem dificuldades na datação, em virtude de apresentar soluções estruturais de gosto românico. As Inquirições de 1258 referem Sancte Marie de Vilar como Honra de D. Gil Martins e dos seus descendentes, da linhagem dos Ribavizela.

Com a cabeça cheia de românico terminámos mais este dia. Deslocámo-nos para Penafiel onde pernoitámos no Parque do Sameiro junto à sua um pouco extravagante igreja. Noite descansada e sem histórias.
Para mais este dia na Rota encontrámos logo pela manhã o Dr. Joaquim Costa que nos vai acompanhar na visita a mais cinco monumentos. Começámos pela Igreja de São Gens de Boelhe.
O monumento é um exemplar da arquitectura religiosa, românica. Igreja relativamente baixa e arquitectonicamente muito simples, de nave única rectangular e capela-mor quadrangular, seguindo a planimetria mais comum da arquitectura românica portuguesa. Apesar desta aparente simplicidade, a qualidade dos muros é notória, bem patente na quantidade de siglas geométricas e alfabéticas existentes. Estes elementos revelam a marca do prestígio do ofício de canteiro, correspondendo à sua assinatura, situação que se tornou comum, a partir dos inícios do século XIII, na arquitectura românica. Em Boelhe, as frequentes e repetidas siglas indicam que a Igreja terá sido feita por meia dúzia de canteiros. Destaque para a originalidade escultórica dos capitéis do portal principal, composto por palmetas executadas a bisel, típicas do românico rural do Tâmega e Sousa, ornatos grafíticos de cruzes dentro de círculos, motivos muito antigos, de influência das Épocas Visigótica e Moçárabe. Do lado sul da empena da fachada principal resta o arco do campanário ou torre sineira, que abrigava o sino. Já na fachada lateral sul, os cachorros mostram-se menos esculpidos, enquanto no lado norte os cachorros apresentam motivos que vão desde cabeças de touro até homens que transportam pedra ou, ainda, elementos geométricos. A razão para esta diferenciação estará no facto de a face norte não ter sido destinada a ser encoberta por construções. Esta exuberância na decoração dos cachorros evidencia duas das principais características do românico nacional: a variedade e a vontade de impressionar



A Igreja do Salvador de Cabeça Santa foi a nossa visita seguinte.
Igreja de planta longitudinal e capela-mor quadrangular, estruturalmente presa ao românico da bacia do Sousa e do Baixo Tâmega. Possui afinidades de concepção e linguagem arquitectónica com a Igreja de São Gens de Boelhe.
As soluções decorativas que se encontram nesta igreja são muito próximas das aplicadas na Sé do Porto e na Igreja de São Martinho de Cedofeita, nomeadamente no arranjo dos portais e na escultura dos capitéis. A escultura foi beber influências aos modelos franceses e da região do Porto, além de se encontrarem soluções próprias do pré-românico. O portal ocidental possui um tímpano decorado com cabeças de ovídeos, nos capitéis há aves afrontadas e, num deles, figura um personagem deitado e agarrado pela boca de um animal, significando um homem aprisionado pelo pecado. Na fachada sul são visíveis mísulas e um lacrimal, destinado ao escoamento das águas pluviais, que aludem a um antigo alpendre com telhado de uma água. No mesmo portal sul de Cabeça Santa existe um capitel representando um acrobata de corpo arqueado, formando uma espécie de ponte, que tem sido considerado um dos melhores exemplares da escultura do românico do Norte.
O interior foi completamente despojado de toda a cor, de altares, de pinturas, de imagens ou qualquer outro mobiliário litúrgico e devocional. O único aspecto decorativo surge no arco do cruzeiro, nos capitéis, muito semelhantes aos de São Martinho de Cedofeita. Característica do românico, o aparelho granítico é de boa qualidade, tanto na nave como na cabeceira.
A partir da nave da Igreja acede-se à, actualmente, denominada Capela de Nossa Senhora do Rosário, um espaço autónomo de planta rectangular. Bastante equilibrado e requintado, no que se refere ao gosto decorativo, este espaço apresenta uma estética própria do barroco português, nomeadamente na peculiar associação da talha dourada, do revestimento azulejar e a madeira de pau-preto com aplicações de metal dourado das grades torneadas, que marcam a separação entre a capela e a nave da Igreja.
No adro da Igreja, em afloramento granítico, existem três sepulturas escavadas na rocha. Uma com cabeceira trapezoidal e com remate arredondado nos pés, destinada a um adulto, e as outras duas são geminadas, tendo uma a cabeceira em arco de ferradura e a outra apresenta-se muito mutilada na sua metade superior. Junto ao muro, a sul, existem ainda três sarcófagos medievais com as respetivas tampas.
No projeto de recuperação da Igreja estava, inicialmente, prevista a remoção da torre sineira, facto que colidia com os interesses da população. Optou-se, então, pela sua desmontagem e remontagem junto ao limite do adro.




O acrobata




A nossa romagem levou-nos em seguida ao Mosteiro de São Pedro de Cête.
É um exemplar da arquitectura religiosa, românica e gótica, sendo uma igreja monacal, de nave única com planta longitudinal e capela-mor de dois tramos de remate semicircular e frontispício em empena, normalmente considerada como românica, embora classificada por Almeida como gótica, visto resultar de uma reconstrução do séc. XIV. Da primitiva igreja românica, possivelmente da segunda metade do século XII, conservam-se algumas pedras decoradas, o portal do claustro e a parte inferior dos muros de grande parte da nave. A torre ameada e o possante botaréu que ladeia o pórtico sublinham o carácter defensivo da sua construção. O arranjo da fachada, a relação entre o comprimento e a largura da igreja, a relação entre o pé-direito da cabeceira e da nave e a escultura dos capitéis e dos cachorros evidenciam o estilo gótico da construção deste mosteiro.
Da construção mais antiga ali existente foram reaproveitadas as primeiras fiadas da nave e, provavelmente, o portal sul que dá acesso ao claustro.
O alçado da cabeceira possui características próprias do românico, ao empregar arcadas-cegas para ritmar e animar a parede. Os cachorros de proa que seguram a cornija são, no entanto, claramente góticos, tal como a relação de altura entre a nave e a cabeceira é típica deste estilo arquitectónico.
O portal principal retoma aspectos do românico epigonal, apesar de o portal lateral norte ser identificável com o estilo gótico.
A torre, que abriga a capela funerária de D. Gonçalo Oveques, para além da função sineira, assume o simbolismo de representar uma senhoria, já que na Época Medieval, o abade era, normalmente, um nobre. Perante o seu aspecto robusto e defensivo, não seria, de todo, uma torre destinada a habitação.
Na época Manuelina, o Mosteiro sofreu remodelações, nomeadamente o claustro, a Sala do Capítulo, o contraforte da fachada principal de reforço à torre, o arranjo da abóbada da capela funerária e do arcossólio de D. Gonçalo Oveques. O interior da capela recebeu, ainda, painéis de azulejos policromados, de origem hispano-mourisca, compostos por silhares de padronagem diferenciada: fitomórfica, geometrizante e laçarias. Os painéis, que recorrem ao azul, ao verde e ao castanho sobre fundo branco, são delimitados por cercaduras de desenho geométrico simplificado.




O Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa é fundamental para a compreensão da arquitectura românica do Tâmega e Sousa, não só pelas suas singulares características arquitectónicas e escultóricas, como pelo facto deste antigo Mosteiro Beneditino conservar, no seu interior, o túmulo de Egas Moniz, uma das figuras centrais do início da Nacionalidade.
O Mosteiro é um edifício-padrão para a região, característica visível pelo modo muito próprio de decorar, quer pelos temas empregues, quer pelas técnicas escultóricas utilizadas. Estas valorizam as colunas prismáticas nos portais, bases bulbiformes, recorrendo a padrões decorativos vegetalistas talhados a bisel, desenvolvendo longos frisos no interior e no exterior da igreja, muito ao estilo da arquitectura das Épocas Visigótica e Moçárabe.
Apesar das suas características românicas, o Mosteiro foi erguido no século XIII, possuindo parcelas de várias épocas, nomeadamente elementos reaproveitados de uma construção mais antiga, que deverá ser datada da segunda metade do século XII, e outros de nítido recorte pré-românico que inspiraram os artistas que trabalharam no estaleiro do século XIII. 




A torre sineira foi deslocada para longe do edifício. 
O último monumento a visitar nesta fase da nosso percurso pela Rota foi o Memorial da Ermida.
Este monumento é um exemplar de arquitectura funerária, românica, composto por memorial de plinto rectangular de quatro fiadas de silhares graníticos, com sapata, sendo a superior decorada por um sulco que torneia a plataforma, sobre a qual se ergue uma parede rasgada por arco quebrado, com aresta em toro e decoração em bolame.
O conjunto é encimado por uma cornija com friso de decoração fitomórfica, biselada com remates prismáticos nos extremos. No vão do arco encontra-se uma pedra sepulcral, desprovida de decoração, possuindo somente um toro em relevo que a envolve, assim como no seu vértice, estando assente em dois blocos com colunelos esculpidos, que apresentam capitéis com faces humanas toscamente modeladas. O monumento encontra-se rodeado por uma base de lajes graníticas.
Existem apenas seis exemplares conhecidos deste tipo de construção de monumento funerário. Este assenta sobre uma base pétrea rectangular, na qual foi aberta a cavidade sepulcral que, de acordo com especialistas, era antropomórfica.
Um friso, no qual foram esculpidas folhas tratadas a bisel, segundo as técnicas da oficina de pedreiros que, em meados do século XIII, trabalhou no Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, em Penafiel, remata a parte superior do monumento. Estas características estilísticas sugerem que a construção terá ocorrido em meados do século XIII.


Aqui se termina esta primeira fase da nossa Rota do Românico. Estamos indubitávelmente mais ricos e temos matéria para reflectir e estudar. Visitámos 12 dos monumentos que estão disponíveis na Rota. Muitos mais existem e sabemos que outros estão em via de ser adicionados. Como todos sabem esta região é plena de belezas naturais, rica do ponto de vista gastronómico e relativamente fácil de acesso e de permanência em autocaravana. Foi uma bela experiência que gostariamos de aprofundar num futuro mais ou menos próximo.

Mais uma vez agradecemos à nossa amiga Dra Rosário Machado todas as facilidades que nos proporcionou e a toda a equipa da Rota pelas notas que “surripiámos “ para compor esta nossa publicação que esperamos tenha o mérito de despertar alguns companheiros para esta nossa cultura portuguesa que vale mesmo a pena.