Mão
amiga fez-nos descobrir a ROTA DO
ROMÂNICO DO VALE DO SOUSA, através de dois documentos: uma excelente e
valiosa publicação sobre o tema onde o românico é tratado com minúcia e onde
são descritos os monumentos constituintes da Rota e um precioso guia prático
sobre o mesmo assunto, indispensável para uma abordagem fundamentada aos
monumentos que se visitam. É deste guia e do site Internet da Rota (http://www.rotadoromanico.com) que são extraídos muitos dos elementos que constituem
a publicação deste post ( estes apontamentos serão apresentados em itálico no texto).
Logo
surgiu a ideia de abordar esta Rota viajando em autocaravana. Para isso
contámos com a preciosa ajuda da nossa amiga Dra Rosário Correia Machado, digníssima Directora da Rota e dos seus colaboradores Dr. Joaquim Costa e
Miguel Augusto que nos fizeram apreciar os monumentos de forma mais
esclarecida.
O
estilo românico surge em Portugal no final do século XI. A expansão deste tipo
de arquitectura, em Portugal, coincide com o reinado de D. Afonso Henriques. Sendo
uma arquitectura predominantemente religiosa, o românico está muito relacionado
com a organização eclesiástica e com os mosteiros das várias ordens monásticas,
fundados ou reconstruídos nos séculos XII e XIII.
Em
Portugal a arquitectura românica concentra-se, essencialmente, no Noroeste e no
Centro, sendo coeva do período em que se estrutura o seu habitat, com as
freguesias e toda uma organização religiosa e vicinal de aldeamentos.
Nestas
terras habitaram algumas das famílias nobres do início da Nacionalidade, como
os Ribadouro, da qual descende Egas Moniz, o famoso aio de D. Afonso Henriques,
cujo túmulo pode ser visitado no Mosteiro de Paço de Sousa, os Sousa ou Sousões
e os Baião.
A
riqueza da arquitectura românica da região é também evidenciada pela
diversidade de tipologias, expressa nos monumentos que compõem a Rota do
Românico: mosteiros, igrejas, ermidas, pontes, torres e monumentos funerários.
Depois
das já descritas visitas a Madrid e a Ávila e de uma permanência para descanso
em Mêda e Amarante iniciámos a nossa Rota propriamente dita: começámos por
pernoitar no parque de estacionamento frente ao Mosteiro de Santa Maria de
Pombeiro.
O
Mosteiro de Pombeiro é fundado, segundo a tradição, em 1059. Em 1112 é
concedida Carta de Couto ao Mosteiro, significando que aquelas terras são
dotadas de particulares privilégios e de justiça própria. Pombeiro é, todavia,
uma das mais antigas instituições monacais do território português, estando
documentada desde 853. Em 1041, o Mosteiro sofre a transferência para a sua
atual localização, sendo erguido o primeiro conjunto a partir de 1059,
monumento do qual nada chegou até aos nossos dias. No entanto, é neste período
condal que ocorre a já referida doação de D. Egas Gomes de Sousa e a concessão
da Carta de Couto de D. Teresa. A localização do Mosteiro, na interseção de
duas das principais vias medievais da época – uma que ligava o Porto a
Trás-os-Montes, por Amarante, e uma segunda que ligava a Beira a Guimarães e
Braga, atravessando Lamego e o Douro em Porto de Rei – evidencia a
significativa importância deste conjunto monástico Beneditino na região. É
nestes espaços que os reis se instalam nas suas viagens e nos quais os peregrinos
se albergam e recebem assistência.
Estrada Romana nas imediações do Mosteiro |
Já
na Idade Moderna, Pombeiro foi objeto de profundas modificações, a maioria das
quais ocorridas no período Barroco. Uma das alas do claustro data de 1702,
século ao longo do qual se realizaram a nova capela-mor, o coro alto, o órgão,
as numerosas obras de talha dourada, as duas torres que flanqueiam a frontaria
e uma parte das alas monacais.
Os
claustros foram alvo de remodelação nos inícios de Oitocentos, com uma campanha
neoclássica, interrompida em 1834, com a extinção das ordens religiosas.
O
Mosteiro de Pombeiro, exemplar de arquitetura religiosa, românica e
setecentista, é constituído por uma igreja românica de planta longitudinal de
três naves com arcos diafragma, falso transepto e cabeceira tripla, reformada
na época de Setecentos. O monumento possui uma planta com desenvolvimento
longitudinal, acentuado pela grande profundidade da capela-mor. A fachada
principal, orientada a sudoeste, encontra-se enquadrada por duas torres
sineiras, rematadas por coruchéus, e conserva o portal românico de cinco
arquivoltas, assentes em capitéis lavrados. Este é encimado por uma grande
rosácea, emoldurada por colunas e arcos românicos. O interior, de três naves,
mantém os absidíolos e duas arquetas tumulares.
Algumas imagens do Mosteiro:
O cadeiral em jacarandá do Coro alto |
Após
a visita continuámos a nossa viagem fazendo uma pequena interrupção, de carácter
arqueológico, na nossa Rota para visitar a Citânia de Sanfins.
Esta é uma das estações arqueológicas
mais significativas da cultura castreja do Noroeste peninsular e da
Proto-história europeia. A vasta panorâmica sobre toda a região de
Entre-Douro-e-Minho, que dela se abrange, terá sido factor estratégico
determinante do desenvolvimento deste importante povoado. A observação das suas
áreas de influência permite questionar a formação deste “lugar central” no
quadro da rede de povoamento castrejo regional. Tudo indica ter sido escolhido, na sequência de
uma campanha militar romana (138-136 a.C.), como capital dos povos Calaicos,
dos Brácaros, situados na margem direita do Douro. Este sítio era já conhecido,
tendo sido detectados elementos vestigiais mais antigos. Suspeita-se de um
fundo pré-histórico do período calcolítico e achados de escavações documentam
ter sido habitado por uma pequena população entre os sécs. V e III a.C. na
parte superior da colina, O grande aglomerado da Citânia, terá resultado,
porém, da congregação de diversas comunidades limítrofes por motivos estratégicos.
De
regresso à Rota dirigimo-nos a Ferreira para visitar o Mosteiro de São Pedro de Ferreira onde desfrutámos de uma
visita guiada pelo Dr. Joaquim Costa, mas também pela Dra. Rosário Machado que
ali nos deu as boas-vindas.
A origem da igreja do Mosteiro de São
Pedro de Ferreira remonta ao século X, tendo por base a referência que lhe é
feita no testamento de Mumadona Dias, datado de 959. O templo atualmente
existente começa a ser construído em 1182, podendo identificar-se elementos de uma primeira
igreja românica que terá sido construída entre finais do século XI e inícios do
século XII.
Este monumento constitui um caso único
no românico português, ao ser precedido por um nártex cercado por um muro, um
campanário de dois vãos e cimalha de duas águas. Esta estrutura corresponderia
à anteigreja de função funerária. A planta do Mosteiro é composta por uma única
nave, com cabeceira abobadada, organizada em dois tramos, sendo o primeiro mais
largo e mais alto. Esta é uma característica muito particular do Românico do
Alto Minho.
A nave, cuja altura do seu corpo está
impregnada de espacialidade protogótica, está coberta a madeira e a cabeceira,
internamente, apresenta-se poligonal, enquanto no exterior é semicircular. A
sua invulgar altura provocou a colocação de contrafortes no exterior e colunas
adossadas no interior. A capela-mor, relativamente alta, é composta por dois
níveis, um primeiro de arcadas-cegas, duas das quais em mitra, e um segundo com
alçado em arcadas que alternam com frestas. Invulgar no estilo Românico
português é a existência de um arco toral na cabeceira apoiado em pilastras
salientes adornadas por escócias.
O portal da fachada principal está
inserido em corpo pentagonal, enquanto o portal ocidental, amplo e muito bem
desenhado, revela quatro colunas de cada lado, duas delas prismáticas. A
decoração é executada por intermédio de um recorte torneado no extradorso das
arcadas, acentuado por um largo furo.
Os capitéis dos portais laterais são de
grande qualidade, uns apresentando laçarias e animais, outros em decoração
vegetalista. As fachadas laterais foram rematadas por uma cornija formada por
pequenos arcos assentes em mísulas.
Terminada
a visita a Ferreira dirigimo-nos a Guilhufe
para serviço da autocaravana e pernoita. Constatámos os melhoramentos
efectuados na freguesia desde a nossa última visita aquando da inauguração da área
de serviço. Os melhoramentos são visiveis ao nível do parque paroquial e das
acessibilidades. Parabéns e agradecimentos ao Sr. Vitorino, Presidente da Junta
de Freguesia, que mais uma vez nos recebeu com amizade e dedicação.
De
regresso à Rota, desta vez por nossa conta mas com indicações bem precisas, recomeçamos
pela Igreja de São Vicente de Sousa.
Monumento de arquitectura religiosa,
edificado segundo a corrente românica e barroca, São Vicente de Sousa é uma
Igreja de planta longitudinal, remodelada planimetricamente no século XVIII e
decorada interiormente em estilo barroco.
A Igreja é constituída por nave única e
capela-mor rectangular, possuindo ainda uma torre sineira, erguida ao modo de um
muro, adossada à fachada sul da capela-mor.
Na fachada principal, virada a ocidente,
abre-se o portal, inserido em estrutura pétrea pentagonal, e saliente, para que
o pórtico possa ser mais profundo. As fachadas laterais são rematadas
superiormente por arquinhos sobre cachorros lisos, onde assenta a cornija. Nos
muros abrem-se dois vãos de iluminação, cujo perfil indica a sua abertura na
Época Moderna. Na fachada norte, o portal é constituído por duas arquivoltas e
tímpano com a representação de uma cruz circundada por entrelaços, contrastando
com o portal da fachada sul, de estrutura simples e tímpano liso.
Nas construções medievais é habitual
encontrar os claustros a sul, do lado do Sol, organizando-se os aposentos
monásticos em seu redor, nomeadamente a Casa do Capítulo, o refeitório ou o
dormitório. Nesta Igreja, de facto, pode apreciar-se que na fachada sul, a meia
altura do muro, correu um lacrimal sobre mísulas, elementos que comprovam a
existência de um alpendre de uma água ou de um claustro.
Duas inscrições na Igreja de S. Vicente
de Sousa, da época românica, permitem conhecer a sua história. A inscrição
comemorativa da Dedicação da Igreja encontra-se gravada na face externa da
parede da nave, à direita do portal lateral norte do templo, revelando que a
Igreja foi sagrada em 14 de agosto de 1214.
Já a segunda inscrição é mais antiga,
de 1162, correspondendo a uma inscrição fúnebre ou comemorativa da construção
de um arcossólio. A ser, de facto, uma inscrição funerária, trata-se do
exemplar mais antigo registado.
Convém
informar que muitos dos monumentos da Rota se encontram a escassos quilómetros
uns dos outros. Daí que em poucos minutos nos encontrássemos na Igreja do Salvador de Unhão.
Exemplar de arquitectura religiosa,
esta Igreja românica possui planta longitudinal e nave única, datada da primeira
metade do séc. XIII, remodelada planimétrica e decorativamente nos séculos
XVIII e XIX. O Salvador de Unhão é um importante templo religioso, reflectindo a
importância e o alcance do processo de povoamento da região ao longo do século
XIII.
Apesar das transformações que foi
recebendo ao longo do tempo, e que alteraram a construção românica, conserva-se
a epígrafe que regista a Dedicação da Igreja, em 28 de janeiro de 1165. Esta
inscrição constitui o mais antigo testemunho da sua história, já
que as referências documentais conhecidas
não são anteriores a 1220.
De modestas proporções, Unhão possui
uma única nave e capela-mor rectangular, cujo maior motivo de interesse reside
no seu portal principal, inscrito em gablete e composto por quatro arquivoltas
de arco de volta perfeita, decoradas com motivos geométricos e vegetalistas,
enquadrando um tímpano preenchido com a típica cruz vazada de tradição
bracarense.
Assinatura dos Mestres construtores |
Mais
um pequeno percurso para alcançar o próximo objectivo, a Igreja de Santa Maria de Airães.
Este
monumento é um belo exemplar da arquitectura religiosa românica, gótica,
seiscentista e rococó. Santa Maria de Airães é uma Igreja de estrutura
românica, orientada, de planta longitudinal, de três naves, cabeceira
quadrangular simples e torre sineira adossada à fachada lateral da capela-mor.
O
actual edifício não corresponde à data de fundação da Igreja, a qual está documentada
desde 1091. Nas Inquirições de 1221 a Igreja surge como ecclesia de Araes, no
Julgado de Felgueiras.
Há
registos da existência de uma inscrição junto ao púlpito, entretanto
desaparecida, referente ao ano de 1184. O aspecto tardio de alguns dos
elementos da sua construção aponta para um edifício do final do século XIII ou
mesmo do início do século XIV.
As
sucessivas alterações que a Igreja foi sofrendo modificaram-lhe o carácter inicial.
As remodelações sofridas entre os séculos XIII e XIV introduziram-lhe elementos
arquitectónicos e gramática decorativa inspirados no gótico.
Aproveitámos o muito agradável adro da Igreja de Santa Maria de Airães para almoçar descansadamente na nossa "casinha".
Depois
de almoço mais uma meia dúzia de quilómetros e eis-nos na Igreja de São Mamede de Vila Verde.
Vila
Verde é um edifício de arquitectura religiosa, sendo uma Igreja românica
tardia, de planta longitudinal, composta por nave única e capela- A orientação da Igreja segue as regras canónicas, ou
seja, com a fachada principal orientada para Ocidente. A cabeceira rectangular,
seguindo o habitual esquema da arquitectura medieval portuguesa, assume a
função paroquial e é mais estreita e baixa do que a nave.mor rectangular.
Existem vestígios de revestimento a fresco na capelamor.
Os
documentos mais antigos referem a existência da Igreja de São Mamede já em
1220, na altura integrando o padroado do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro.
No
entanto, o actual edifício corresponde a uma reforma mais tardia, já em plena
época de influência gótica, apesar de recorrer ainda à construção românica. Alguns
apontamentos de frescos que ainda hoje são passíveis de serem admirados na capela-mor
foram pintados, pelo Mestre Arnaus, no século XVI. Na nave é ainda visível o
revestimento a reboco decorado com pinturas. O santo padroeiro era S. Mamede.
Terminámos
o nosso périplo na Torre de Vilar.
A Torre de Vilar é um monumento de
arquitectura militar e civil particular. Foi residência senhorial fortificada do
século XIII/XIV, de construção românica, constituída por uma torre que conserva
cinco andares.
A Torre de Vilar, construída entre a
segunda metade do século XIII e o início do século XIV, evidencia o poder
senhorial sobre o território, sendo um testemunho da existência da domus
fortis, uma residência senhorial fortificada no Tâmega e Sousa.
Existem dificuldades na datação, em
virtude de apresentar soluções estruturais de gosto românico. As Inquirições de
1258 referem Sancte Marie de Vilar como Honra de D. Gil Martins e dos seus
descendentes, da linhagem dos Ribavizela.
Com
a cabeça cheia de românico terminámos mais este dia. Deslocámo-nos para
Penafiel onde pernoitámos no Parque do Sameiro junto à sua um pouco
extravagante igreja. Noite descansada e sem histórias.
Para
mais este dia na Rota encontrámos logo pela manhã o Dr. Joaquim Costa
que nos vai acompanhar na visita a mais cinco monumentos. Começámos pela Igreja de São Gens de Boelhe.
O monumento é um exemplar da arquitectura
religiosa, românica. Igreja relativamente baixa e arquitectonicamente muito
simples, de nave única rectangular e capela-mor quadrangular, seguindo a planimetria
mais comum da arquitectura românica portuguesa. Apesar desta aparente
simplicidade, a qualidade dos muros é notória, bem patente na quantidade de
siglas geométricas e alfabéticas existentes. Estes elementos revelam a marca do
prestígio do ofício de canteiro, correspondendo à sua assinatura, situação que
se tornou comum, a partir dos inícios do século XIII, na arquitectura românica.
Em Boelhe, as frequentes e repetidas siglas indicam que a Igreja terá sido
feita por meia dúzia de canteiros. Destaque para a originalidade escultórica dos
capitéis do portal principal, composto por palmetas executadas a bisel, típicas
do românico rural do Tâmega e Sousa, ornatos grafíticos de cruzes dentro de
círculos, motivos muito antigos, de influência das Épocas Visigótica e
Moçárabe. Do lado sul da empena da fachada principal resta o arco do campanário
ou torre sineira, que abrigava o sino. Já na fachada lateral sul, os cachorros
mostram-se menos esculpidos, enquanto no lado norte os cachorros apresentam
motivos que vão desde cabeças de touro até homens que transportam pedra ou,
ainda, elementos geométricos. A razão para esta diferenciação
estará no facto de a face norte não ter sido destinada a ser encoberta por construções.
Esta exuberância na decoração dos cachorros evidencia duas das principais
características do românico nacional: a variedade e a vontade de impressionar
A
Igreja do Salvador de Cabeça Santa
foi a nossa visita seguinte.
Igreja de planta longitudinal e
capela-mor quadrangular, estruturalmente presa ao românico da bacia do Sousa e
do Baixo Tâmega. Possui afinidades de concepção e linguagem arquitectónica com a
Igreja de São Gens de Boelhe.
As soluções decorativas que se
encontram nesta igreja são muito próximas das aplicadas na Sé do Porto e na Igreja
de São Martinho de Cedofeita, nomeadamente no arranjo dos portais e na
escultura dos capitéis. A escultura foi beber influências aos modelos franceses
e da região do Porto, além de se encontrarem soluções próprias do pré-românico.
O portal ocidental possui um tímpano decorado com cabeças de ovídeos, nos
capitéis há aves afrontadas e, num deles, figura um personagem deitado e
agarrado pela boca de um animal, significando um homem aprisionado pelo pecado.
Na fachada sul são visíveis mísulas e um lacrimal, destinado ao escoamento das águas
pluviais, que aludem a um antigo alpendre com telhado de uma água. No mesmo
portal sul de Cabeça Santa existe um capitel representando um acrobata de corpo
arqueado, formando uma espécie de ponte, que tem sido considerado um dos
melhores exemplares da escultura do românico do Norte.
O interior foi completamente despojado
de toda a cor, de altares, de pinturas, de imagens ou qualquer outro mobiliário
litúrgico e devocional. O único aspecto decorativo surge no arco do cruzeiro,
nos capitéis, muito semelhantes aos de São Martinho de Cedofeita.
Característica do românico, o aparelho granítico é de boa qualidade, tanto na
nave como na cabeceira.
A partir da nave da Igreja acede-se à,
actualmente, denominada Capela de Nossa
Senhora do Rosário, um espaço autónomo de planta rectangular. Bastante
equilibrado e requintado, no que se refere ao gosto decorativo, este espaço
apresenta uma estética própria do barroco português, nomeadamente na peculiar associação
da talha dourada, do revestimento azulejar e a madeira de pau-preto com
aplicações de metal dourado das grades torneadas, que marcam a separação entre
a capela e a nave da Igreja.
No adro da Igreja, em afloramento
granítico, existem três sepulturas escavadas na rocha. Uma com cabeceira
trapezoidal e com remate arredondado nos pés, destinada a um adulto, e as
outras duas são geminadas, tendo uma a cabeceira em arco de ferradura e a outra
apresenta-se muito mutilada na sua metade superior. Junto ao muro, a sul,
existem ainda três sarcófagos medievais com as respetivas tampas.
No projeto de recuperação da Igreja
estava, inicialmente, prevista a remoção da torre sineira, facto que colidia
com os interesses da população. Optou-se, então, pela sua desmontagem e remontagem
junto ao limite do adro.
O acrobata |
A
nossa romagem levou-nos em seguida ao Mosteiro
de São Pedro de Cête.
É um exemplar da arquitectura
religiosa, românica e gótica, sendo uma igreja monacal, de nave única com
planta longitudinal e capela-mor de dois tramos de remate semicircular e frontispício
em empena, normalmente considerada como românica, embora classificada por
Almeida como gótica, visto resultar de uma reconstrução do séc. XIV. Da
primitiva igreja românica, possivelmente da segunda metade do século XII,
conservam-se algumas pedras decoradas, o portal do claustro e a parte inferior
dos muros de grande parte da nave. A torre ameada e o possante botaréu que
ladeia o pórtico sublinham o carácter defensivo da sua construção. O arranjo da
fachada, a relação entre o comprimento e a largura da igreja, a relação entre o
pé-direito da cabeceira e da nave e a escultura dos capitéis e dos cachorros
evidenciam o estilo gótico da construção deste mosteiro.
Da construção mais antiga ali existente
foram reaproveitadas as primeiras fiadas da nave e, provavelmente, o portal sul
que dá acesso ao claustro.
O alçado da cabeceira possui
características próprias do românico, ao empregar arcadas-cegas para ritmar e animar
a parede. Os cachorros de proa que seguram a cornija são, no entanto,
claramente góticos, tal como a relação de altura entre a nave e a cabeceira é
típica deste estilo arquitectónico.
O portal principal retoma aspectos do
românico epigonal, apesar de o portal lateral norte ser identificável com o
estilo gótico.
A torre, que abriga a capela funerária
de D. Gonçalo Oveques, para além da função sineira, assume o simbolismo de
representar uma senhoria, já que na Época Medieval, o abade era, normalmente,
um nobre. Perante o seu aspecto robusto e defensivo, não seria, de todo, uma
torre destinada a habitação.
Na época Manuelina, o Mosteiro sofreu
remodelações, nomeadamente o claustro, a Sala do Capítulo, o contraforte da
fachada principal de reforço à torre, o arranjo da abóbada da capela funerária
e do arcossólio de D. Gonçalo Oveques. O interior da capela recebeu, ainda,
painéis de azulejos policromados, de origem hispano-mourisca, compostos por
silhares de padronagem diferenciada: fitomórfica, geometrizante e laçarias. Os
painéis, que recorrem ao azul, ao verde e ao castanho sobre fundo branco, são
delimitados por cercaduras de desenho geométrico simplificado.
O
Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa
é fundamental para a compreensão da
arquitectura românica do Tâmega e Sousa, não só pelas suas singulares
características arquitectónicas e escultóricas, como pelo facto deste antigo
Mosteiro Beneditino conservar, no seu interior, o túmulo de Egas Moniz, uma das figuras centrais do
início da Nacionalidade.
O Mosteiro é um edifício-padrão para a
região, característica visível pelo modo muito próprio de decorar, quer pelos
temas empregues, quer pelas técnicas escultóricas utilizadas. Estas valorizam
as colunas prismáticas nos portais, bases bulbiformes, recorrendo a padrões
decorativos vegetalistas talhados a bisel, desenvolvendo longos frisos no
interior e no exterior da igreja, muito ao estilo da arquitectura das Épocas
Visigótica e Moçárabe.
Apesar das suas características
românicas, o Mosteiro foi erguido no século XIII, possuindo parcelas de várias
épocas, nomeadamente elementos reaproveitados de uma construção mais antiga, que
deverá ser datada da segunda metade do século XII, e outros de nítido recorte
pré-românico que inspiraram os artistas que trabalharam no estaleiro do século
XIII.
A torre sineira foi deslocada para longe do edifício.
O último monumento a visitar nesta fase da nosso percurso pela Rota foi o Memorial da Ermida.
Este monumento é um exemplar de arquitectura funerária, românica, composto por memorial de plinto rectangular de quatro fiadas de silhares graníticos, com sapata, sendo a superior decorada por um sulco que torneia a plataforma, sobre a qual se ergue uma parede rasgada por arco quebrado, com aresta em toro e decoração em bolame.
O conjunto é encimado por uma cornija com friso de decoração fitomórfica, biselada com remates prismáticos nos extremos. No vão do arco encontra-se uma pedra sepulcral, desprovida de decoração, possuindo somente um toro em relevo que a envolve, assim como no seu vértice, estando assente em dois blocos com colunelos esculpidos, que apresentam capitéis com faces humanas toscamente modeladas. O monumento encontra-se rodeado por uma base de lajes graníticas.
Existem apenas seis exemplares conhecidos deste tipo de construção de monumento funerário. Este assenta sobre uma base pétrea rectangular, na qual foi aberta a cavidade sepulcral que, de acordo com especialistas, era antropomórfica.
Um friso, no qual foram esculpidas folhas tratadas a bisel, segundo as técnicas da oficina de pedreiros que, em meados do século XIII, trabalhou no Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, em Penafiel, remata a parte superior do monumento. Estas características estilísticas sugerem que a construção terá ocorrido em meados do século XIII.
Aqui
se termina esta primeira fase da nossa Rota
do Românico. Estamos indubitávelmente mais ricos e temos matéria para
reflectir e estudar. Visitámos 12 dos monumentos que estão disponíveis na Rota.
Muitos mais existem e sabemos que outros estão em via de ser adicionados.
Como todos sabem esta região é plena de belezas naturais, rica do ponto de
vista gastronómico e relativamente fácil de acesso e de permanência em
autocaravana. Foi uma bela experiência que gostariamos de aprofundar num futuro
mais ou menos próximo.
Mais
uma vez agradecemos à nossa amiga Dra Rosário Machado todas as facilidades que
nos proporcionou e a toda a equipa da Rota pelas notas que “surripiámos “ para
compor esta nossa publicação que esperamos tenha o mérito de despertar alguns
companheiros para esta nossa cultura portuguesa que vale mesmo a pena.
Ora aqui está uma viagem ''cá dentro'' de se lhe tirar o chapéu...
ResponderEliminarEspero que o tempo vos ajude.
Parabéns pela escolha.
Parabens........seu blog é muito bom.
ResponderEliminarAbraços
Sergio
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Obrigado
EliminarQue maravilhosa descrição e que belas fotos! Foi uma visita mesmo a sério, acredito que agora estejam mais conhecedores do românico e de história deste nosso Portugal! Muitos beijinhos aos dois!
ResponderEliminarMais conhecedores mais ricos e muito reconhecidos a quem, por um lado, nos fez descobrir a existência da Rota e por outro nos permitiu descobri-la. Obrigado Rosarinho.
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