quinta-feira, 7 de junho de 2012

NA ROTA DOS CÁTAROS


A 29 de Maio saímos de Lourdes para entrar nas alturas dos Pirinéus. Pelo desfiladeiro de Luz em direcção a Luz-St-Sauveur e depois pelo pico de  Tourmalet onde tentámos subir ao Midi de Bigorre o que não foi possível porque o teleférico se encontrava encerrado para manutenção. Fomos recompensados pelas magnificas paisagens de montanha.


Dirigimo-nos a Le Mas d’Azil onde tinhamos intenção de visitar a famosa  gruta. A França turistica de certas regiões enferma de um problema: muitas das suas atracções só funcionam em Julho/Agosto, o que era o caso da Gruta do Mas d’Azil. No entanto aproveitámos para pernoitar no excelente parque de estacionamento oferecido pela vila mesmo junto ao rio.
No dia seguinte fomos visitar Foix.
A área de estacionamento indicada pelos guias levou-nos a um beco sem saída de que tivèmos alguma dificuldade em sair. Fomos estacionar, devidamente autorizados, junto à gare dos caminhos de ferro e saímos para a visita à cidade velha.
A Igreja São “Volusian”

e, em detalhe, o Castelo de Foix.

No local do Castelo de Foix, que é assinalado desde 987, existiu préviamente um castrum dos séculos VII e VIII. Composto por duas torres quadradas (e por uma circular do século XV) tornou-se a sede do Condado de Foix (1034) e desempenhou um papel determinante na história militar medieval, nomeadamente durante a epopeia cátara.
Pernoita em La Bastide de Sérou no PC L’Aryze, sem menção especial.


OS CÁTAROS
O tema que escolhemos para esta viagem da Primavera de 2012 foi a epopeia Cátara e todos os acontecimentos da história francesa e europeia que a rodearam. Algumas palavras de introdução sobre o tema.
O adjectivo “cátaro” tem sido utilizado para definir várias realidades e também muitas “lendas”. Em meados do século XII, o termo “cátaro” foi utilizado pela Igreja católica para designar os membros duma comunidade de “apóstolos itinerantes” que ela condena pela primeira vez em Bona e em Colónia na Renânia. Comunidades “cátaras” foram constatadas em várias regiões da Europa ocidental tais como a Flandres, a Borgonha, Champagne e Inglaterra. Contudo, foi no Sul de França e em cidades do Norte e do Centro da Itália que o catarismo desfrutou do acolhimento mais favorável. Em todas estas regiões, os “bons homens” ou “boas mulheres”, “bons cristãos” ou “boas cristâs”, como eles se auto-designam, juntam-se em comunidades de homens ou de mulheres, organizados em “casas” de acordo com o modelo da igreja primitiva.
Dentro em pouco a sua expansão e a sua ameaça toma uma tão grande dimensão que a Igreja católica se sente obrigada a lançar uma guerra para a erradicação desta religião. Duas cruzadas serão lançadas pelo reino de França instigadas pelos papas. Tratou-se sobretudo, para os soberanos franceses, de dominar o Languedoque e a Aquitânia. A luta contra os cátaros terá o seu epílogo com a queda da fortaleza de Montségur em 1244.
Podemos assim dizer que começámos pelo fim; a nossa primeira visita foi para o castelo de Montségur.
Porquê o fim? Em 1232, o castelo tornou-se a sede da igreja cátara e refúgio dos “faidits”, nobres locais expoliados dos seus bens pela cruzada franco-papal.
Enquanto que o Languedoc foi posto a ferro e a sangue, Montségur viveu numa paz relativa durante mais de 40 anos. Finalmente, o Papa e o rei de França decidiram, em 1243, acabar com o problema. No fim de um terrível cerco de 11 meses (e à traição), a 16 de Março de 1244, o castelo foi tomado e os Cátaros conduzidos à fogueira. Recusando renunciar às suas convicções mais de duzentos foram queimados vivos. Foi o principio do fim do catarismo que desaparecerá quase totalmente no inicio do século XIV.
Para subir ao castelo são necessários um bom fôlego e boas pernas; é uma ascenção de cerca de uma hora por um carreiro talhado na rocha. As viaturas ficam num parque na base da montanha
e as ascenção e descida são rudes.
Por pouca sorte alguma neblina toldou a nossa visita lá no alto mas estas “pedras” suscitaram-nos uma emoção considerável.


Na base da montanha a pequena aldeia de Montségur é bem simpática e por aqui almoçámos.

Prosseguimos a nossa viagem por entre as maravilhosas paisagens do departamento de Aude para nos irmos instalar para pernoita em Quillan.
Quillan, uma pequena cidade com o seu castelo.
Castelos, Abadias e Museus, tudo nesta região do Languedoc nos faz respirar a história da Idade Média com uma tónica muito especial no fenómeno Cátaro. A nossa visita continuou pelos Castelos de Puilarens, Peyrepertuse e Quéribus.
O Castelo de Puilarens em Lapradelle situado num piton rochoso a 700 metros de altitude impressiona pela sua majestade. Mais uma vez se nos apresentou uma rude ascenção recompensada pelas magnificas paisagens à chegada mas, principalmente, pelo simbolismo e pela história contida nestas velhas “pedras”. Aqui vos deixamos algumas imagens.
 


Reparem onde ficou a nossa AC

Rumo ao Castelo de Peyrepertuse em Duilhac agarrado a uma crista calcária culminando a mais de 800 metros de altitude.


As primeiras menções a este castelo datam de 1070. No decurso da cruzada contra os Cátaros Guillaume de Peyrepertuse não se  submeteu aos senhores do norte e à igreja de Roma e foi excomungado em 1224. Mais tarde depois da queda de Carcassonne foi obrigado a submeter-se e o castelo tornou-se possessão francesa em 1240.
Terminámos as visitas do dia no Castelo de Quéribus em Cucugnan.



Datando provávelmente de 1020 este castelo teve como função inicial a de guardar as fronteiras com o norte de Aragão. Durante a cruzada serve de abrigo a vários religiosos Cátaros, está carregado de simbolismo por ter sido o último bastião da epopeia Cátara a cair nas mãos dos cruzados. Em 1241 fica também submetido à Coroa de França tornando-se castelo real.
Depois deste dia, fisicamente extenuante, mas enriquecedor, deslocámo-nos para Tuchan para pernoita.
Não podemos considerar a visita a Tuchan como algo de inesquecível, antes pelo contrário. Decidimos recolher ao parque de campismo local o Domaine La Peirière; para esquecer, absolutamente.
No dia 4 de Junho tentámos visitar o Castelo de Aguilar, razão da nossa deslocação a esta vila. Bem que avisam no inicio da estrada de acesso que a mesma é estreita. Não pensei é que fosse TÃO ESTREITA. Foram 10 minutos de aflição; não encontrámos nenhuma viatura em sentido inverso senão não sei como seria. Chegados ao pé do Castelo fomos recompensados com o facto de não se poder realizar a visita em razão de ventos violentos. E lá regressámos pela mesma estrada. Sempre vos deixamos uma imagem.
Continuámos o nosso périplo fazendo a próxima escala no Castelo de Arques.
As primeiras menções históricas a Arques datam de 1011. No seguimento de conflitos entre senhores feudais este castelo ficou sob a soberania de Termes. A cruzada contra os cátaros tendo passado por lá, o castelo entrou na posse dos senhores do norte em 1231. O castelo compõe-se de uma muralha quadrangular de que só a parte Sul se encontra em bom estado.
No centro da cerca eleva-se a Torre senhorial quadrangular de 11 metros de lado por cerca de 25 de altura, bem conservada, possuindo nos vértices quatro torreões.

Os arredores são de uma grande beleza.
Próxima paragem em Alet Les Bains. Pequena cidade situada a 30 kms de Carcassonne e a 8 de Limoux e reputada pelas suas águas termais. A razão da nossa visita foi a Abadia d’Alet.
Considerada uma das “mais belas ruínas de França”, ela é exactamente isso: uma ruína mas, efectivamente, bela.



Fundada em 813, sob a tutela directa do Papa Leão III, sofreu vicissitudes várias podendo notar-se entre as ruínas elementos românicos e também góticos. Na sequência da Revolução a diocese foi desmembrada e a ruína do monumento vai acelerar-se até que já no século XX, as primeiras medidas de salvaguarda sejam tomadas.
Finda a visita deslocámo-nos para Limoux para nos instalarmos e pernoitar na magnifica AS que a autarquia local põe à disposição dos autocaravanistas num belo espaço na margem do rio Aude.
Depois de mais uma noite bem passada dirigimo-nos a Saint-Hilaire, a meio caminho entre Limoux e Carcassonne, para visitar a sua Abadia. As origens desta abadia são incertas, datando os primeiros textos em que é mencionada do ano de 825, data a partir da qual se julga deter os restos mortais de Saint-Hilaire. Estando debaixo da protecção dos Condes de Carcassonne até ao inicio do século XIII, perdem-na durante a cruzada contra os cátaros pois os monges são acusados de heresia.
Cite-se como curiosidade que a famosa “blanquette” (tipo de vinho espumante) parece ter sido elaborado inicialmente pelos monges desta abadia em 1531.
Visita-se a Igreja abacial onde se misturam os estilos românico e gótico e onde se podem observar alguns capitéis notáveis.

Na igreja encontra-se o bastante conhecido Sarcófago de Saint Sernin obra-prima do Mestre de Cabestany. Na verdade parece não ser um sarcófago mas sim uma frente de altar mor. A obra, em mármore, descreve a prisão, martírio e enterro de Saint Sernin (ou Saturnin), 1º Bispo de Toulouse no século III.
A visita continuou pelo claustro


para terminar nos aposentos do abade cujos tectos do século XV (restaurados no XIX) são de toda a beleza.



Aqui interrompemos as visitas para nos dirigirmos para uma das nossas metas, Carcassonne e sua cidadela (La Cité).

2 comentários:

  1. Olá companheiro

    Algumas imagens fizeram-me recordar tempos idos.
    Que a viagem continue a correr bem.

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  2. Não regressem já que já estou de partida...
    Nessa zona tentarei assistir ao Tour de France... pois... no Tourmalait...
    Boa região para passear.
    Abraço
    António Resende

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