A
29 de Maio saímos de Lourdes para entrar nas alturas dos Pirinéus. Pelo desfiladeiro de Luz em direcção a Luz-St-Sauveur e depois pelo pico de Tourmalet
onde tentámos subir ao Midi de Bigorre
o que não foi possível porque o teleférico se encontrava encerrado para manutenção.
Fomos recompensados pelas magnificas paisagens de montanha.
Dirigimo-nos
a Le Mas d’Azil onde tinhamos
intenção de visitar a famosa gruta. A
França turistica de certas regiões enferma de um problema: muitas das suas
atracções só funcionam em Julho/Agosto, o que era o caso da Gruta do Mas d’Azil. No entanto
aproveitámos para pernoitar no excelente parque de estacionamento oferecido
pela vila mesmo junto ao rio.
No
dia seguinte fomos visitar Foix.
A
área de estacionamento indicada pelos guias levou-nos a um beco sem saída de
que tivèmos alguma dificuldade em sair. Fomos estacionar, devidamente
autorizados, junto à gare dos caminhos de ferro e saímos para a visita à cidade
velha.
A
Igreja São “Volusian”
e,
em detalhe, o Castelo de Foix.
No
local do Castelo de Foix, que é assinalado desde 987, existiu préviamente um castrum dos séculos VII e VIII. Composto
por duas torres quadradas (e por uma circular do século XV) tornou-se a sede do
Condado de Foix (1034) e desempenhou um papel determinante na história militar
medieval, nomeadamente durante a epopeia cátara.
Pernoita
em La Bastide de Sérou no PC L’Aryze, sem menção especial.
OS CÁTAROS
O
tema que escolhemos para esta viagem da Primavera de 2012 foi a epopeia Cátara e todos os
acontecimentos da história francesa e europeia que a rodearam. Algumas palavras
de introdução sobre o tema.
O
adjectivo “cátaro” tem sido
utilizado para definir várias realidades e também muitas “lendas”. Em meados do século XII, o termo “cátaro” foi utilizado pela Igreja católica para designar os membros
duma comunidade de “apóstolos itinerantes”
que ela condena pela primeira vez em Bona e em Colónia na Renânia. Comunidades
“cátaras” foram constatadas em
várias regiões da Europa ocidental tais como a Flandres, a Borgonha, Champagne
e Inglaterra. Contudo, foi no Sul de França e em cidades do Norte e do Centro
da Itália que o catarismo desfrutou
do acolhimento mais favorável. Em todas estas regiões, os “bons homens” ou “boas
mulheres”, “bons cristãos” ou “boas cristâs”, como eles se
auto-designam, juntam-se em comunidades de homens ou de mulheres, organizados
em “casas” de acordo com o modelo da
igreja primitiva.
Dentro
em pouco a sua expansão e a sua ameaça toma uma tão grande dimensão que a
Igreja católica se sente obrigada a lançar uma guerra para a erradicação desta
religião. Duas cruzadas serão lançadas pelo reino de França instigadas pelos
papas. Tratou-se sobretudo, para os soberanos franceses, de dominar o Languedoque
e a Aquitânia. A luta contra os cátaros terá o seu epílogo com a queda da
fortaleza de Montségur em 1244.
Podemos
assim dizer que começámos pelo fim; a nossa primeira visita foi para o castelo de Montségur.
Porquê
o fim? Em 1232, o castelo tornou-se a sede da igreja cátara e refúgio dos “faidits”, nobres locais expoliados dos
seus bens pela cruzada franco-papal.
Enquanto
que o Languedoc foi posto a ferro e
a sangue, Montségur viveu numa paz
relativa durante mais de 40 anos. Finalmente, o Papa e o rei de França
decidiram, em 1243, acabar com o problema. No fim de um terrível cerco de 11
meses (e à traição), a 16 de Março de 1244, o castelo foi tomado e os Cátaros
conduzidos à fogueira. Recusando renunciar às suas convicções mais de duzentos
foram queimados vivos. Foi o principio do fim do catarismo que desaparecerá quase totalmente no inicio do século
XIV.
Para
subir ao castelo são necessários um bom fôlego e boas pernas; é uma ascenção de
cerca de uma hora por um carreiro talhado na rocha. As viaturas ficam num
parque na base da montanha
e
as ascenção e descida são rudes.
Por
pouca sorte alguma neblina toldou a nossa visita lá no alto mas estas “pedras”
suscitaram-nos uma emoção considerável.
Na
base da montanha a pequena aldeia de Montségur
é bem simpática e por aqui almoçámos.
Prosseguimos
a nossa viagem por entre as maravilhosas paisagens do departamento de Aude para
nos irmos instalar para pernoita em Quillan.
Quillan,
uma pequena cidade com o seu castelo.
Castelos,
Abadias e Museus, tudo nesta região do Languedoc nos faz respirar a história da
Idade Média com uma tónica muito especial no fenómeno Cátaro. A nossa visita
continuou pelos Castelos de Puilarens,
Peyrepertuse e Quéribus.
O
Castelo de Puilarens em Lapradelle situado
num piton rochoso a 700 metros de altitude impressiona pela sua majestade. Mais
uma vez se nos apresentou uma rude ascenção recompensada pelas magnificas
paisagens à chegada mas, principalmente, pelo simbolismo e pela história
contida nestas velhas “pedras”. Aqui
vos deixamos algumas imagens.
Reparem onde ficou a nossa AC
Rumo
ao Castelo de Peyrepertuse em
Duilhac agarrado a uma crista calcária culminando a mais de 800 metros de
altitude.
As
primeiras menções a este castelo datam de 1070. No decurso da cruzada contra os
Cátaros Guillaume de Peyrepertuse não se submeteu aos senhores do norte e à igreja de
Roma e foi excomungado em 1224. Mais tarde depois da queda de Carcassonne foi
obrigado a submeter-se e o castelo tornou-se possessão francesa em 1240.
Terminámos
as visitas do dia no Castelo de Quéribus
em Cucugnan.
Datando
provávelmente de 1020 este castelo teve como função inicial a de guardar as
fronteiras com o norte de Aragão. Durante a cruzada serve de abrigo a vários
religiosos Cátaros, está carregado de simbolismo por ter sido o último bastião
da epopeia Cátara a cair nas mãos dos cruzados. Em 1241 fica também submetido à
Coroa de França tornando-se castelo real.
Depois
deste dia, fisicamente extenuante, mas enriquecedor, deslocámo-nos para Tuchan para pernoita.
Não
podemos considerar a visita a Tuchan como algo de inesquecível, antes pelo
contrário. Decidimos recolher ao parque de campismo local o Domaine La Peirière;
para esquecer, absolutamente.
No
dia 4 de Junho tentámos visitar o Castelo
de Aguilar, razão da nossa deslocação a esta vila. Bem que avisam no inicio
da estrada de acesso que a mesma é estreita. Não pensei é que fosse TÃO
ESTREITA. Foram 10 minutos de aflição; não encontrámos nenhuma viatura em
sentido inverso senão não sei como seria. Chegados ao pé do Castelo fomos
recompensados com o facto de não se poder realizar a visita em razão de ventos
violentos. E lá regressámos pela mesma estrada. Sempre vos deixamos uma imagem.
Continuámos
o nosso périplo fazendo a próxima escala no Castelo de Arques.
As
primeiras menções históricas a Arques
datam de 1011. No seguimento de conflitos entre senhores feudais este castelo
ficou sob a soberania de Termes. A cruzada contra os cátaros tendo passado por
lá, o castelo entrou na posse dos senhores do norte em 1231. O castelo
compõe-se de uma muralha quadrangular de que só a parte Sul se encontra em bom
estado.
No
centro da cerca eleva-se a Torre senhorial quadrangular de 11 metros de lado
por cerca de 25 de altura, bem conservada, possuindo nos vértices quatro
torreões.
Os
arredores são de uma grande beleza.
Próxima
paragem em Alet Les Bains. Pequena
cidade situada a 30 kms de Carcassonne e a 8 de Limoux e reputada pelas suas
águas termais. A razão da nossa visita foi a Abadia d’Alet.
Considerada
uma das “mais belas ruínas de França”,
ela é exactamente isso: uma ruína mas, efectivamente, bela.
Fundada
em 813, sob a tutela directa do Papa Leão III, sofreu vicissitudes várias
podendo notar-se entre as ruínas elementos românicos e também góticos. Na
sequência da Revolução a diocese foi desmembrada e a ruína do monumento vai
acelerar-se até que já no século XX, as primeiras medidas de salvaguarda sejam
tomadas.
Finda
a visita deslocámo-nos para Limoux
para nos instalarmos e pernoitar na magnifica AS que a autarquia local põe à
disposição dos autocaravanistas num belo espaço na margem do rio Aude.
Depois
de mais uma noite bem passada dirigimo-nos a Saint-Hilaire, a meio caminho entre Limoux e Carcassonne, para
visitar a sua Abadia. As origens
desta abadia são incertas, datando os primeiros textos em que é mencionada do
ano de 825, data a partir da qual se julga deter os restos mortais de Saint-Hilaire. Estando debaixo da protecção
dos Condes de Carcassonne até ao inicio do século XIII, perdem-na durante a
cruzada contra os cátaros pois os monges são acusados de heresia.
Cite-se
como curiosidade que a famosa “blanquette”
(tipo de vinho espumante) parece ter sido elaborado inicialmente pelos monges
desta abadia em 1531.
Visita-se
a Igreja abacial onde se misturam os estilos românico e gótico e onde se podem
observar alguns capitéis notáveis.
Na igreja encontra-se o bastante conhecido Sarcófago de Saint Sernin obra-prima do Mestre de Cabestany. Na verdade parece não ser um sarcófago mas sim uma frente de altar mor. A obra, em mármore, descreve a prisão, martírio e enterro de Saint Sernin (ou Saturnin), 1º Bispo de Toulouse no século III.
A
visita continuou pelo claustro
para
terminar nos aposentos do abade
cujos tectos do século XV (restaurados no XIX) são de toda a beleza.
Aqui
interrompemos as visitas para nos dirigirmos para uma das nossas metas, Carcassonne e sua cidadela (La Cité).
Olá companheiro
ResponderEliminarAlgumas imagens fizeram-me recordar tempos idos.
Que a viagem continue a correr bem.
Não regressem já que já estou de partida...
ResponderEliminarNessa zona tentarei assistir ao Tour de France... pois... no Tourmalait...
Boa região para passear.
Abraço
António Resende