Sim estamos em Boujdour! Não vos recorda nada? Pois, o Cabo Bojador. Viemos pôr um joelho em terra em memória dos nossos maiores que o dobraram “para além da dor” nos tempos em que Portugal dava novos mundos ao mundo.
Que enorme contraste com o lugar que ocupamos no mundo actual! Que abissal contraste com as “tristes figuras” que neste momento nos governam!
Nesta pequena cidade costeira de Marrocos existe, na praça principal, em lugar de honra, uma reprodução do padrão que em tempos foi aqui deixado; foi-lhe extirpada a cruz (estamos em terras muçulmanas), mas o resto lá está, as quinas, os castelos, as armas de Aviz. Olhámo-lo com emoção, perguntámos a várias pessoas se sabiam o que significava aquele pequeno monumento a que as autoridades locais deram um lugar tão importante, ninguém sabe.
Metemos conversa com alguns jovens estudantes que por ali deambulavam e com os quais conseguimos falar numa mistura de francês e espanhol e também nada sabiam. Os seus conhecimentos sobre Portugal, resumiam-se a “Cristiano Ronaldo” e até encontrámos um que disse ser do Sporting de Lisboa (há gente para tudo!). Enfim, tentámos explicar-lhes o significado daquele padrão. Pareceram ter apreciado a explicação.
O Guia Verde da Michelin indica que Boujdour seria “uma cidade costeira criada à volta de um farol construído pelos Portugueses”. Nós cremos que o que os portugueses deixaram terá sido um padrão. Este (uma reprodução?) encontra-se exposto com uma certa dignidade perto de um farol de que não conseguimos averiguar a data de construção mas que cremos ser da época de dominação espanhola.
Pois Boujdour é uma pequena cidade costeira, como já dissemos. O parque de campismo em que nos instalámos é do melhor já encontrado em Marrocos. Completamente vazio, não existem muitos autocaravanistas por estes lados nesta época do ano. A 200 metros da praia e a outro tanto do centro, tem uma localização óptima. Único senão, o vento (nortada) que sopra de forte a muito forte, sem interrupção. Parece que é assim há mais de dois meses.
Para fazer funcionar o comércio local decidimos almoçar num restaurante com uma fachada mais ou menos pomposa que indicava “Fruits de Mer”. Instalámo-nos, certamente à vontade sendo os únicos clientes. Enquanto esperávamos pela refeição pedida, Corvina grelhada pois Fruits de Mer não havia, assistimos ao espectáculo hilariante do gato da casa que tentava beber água nos jarros colocados em cima das mesas. Tinha sede o animal! Chegou entretanto a nossa refeição que tentámos disputar às inúmeras moscas presentes no local. Não o tendo conseguido, aproveitámos uma distracção do empregado deixámos o valor da conta em cima da mesa e fugimos, abandonando cobardemente a nossa comida às moscas e ao gato.
Mas recapitulemos.
A 14 de Maio deixámos El Ouatia (não sem fotografar o monumento chamado localmente “Les Sardines”) e tomámos a N 1 que segue para Sul em direcção à Mauritania e por aí abaixo até ao Cabo da Boa Esperança. Passámos por Sidi Akhfenir, Tarfaya, Tah, Dawra e Laâyoune onde fizemos escala para almoço. Perto de Tarfaya encontrámos dois ciclistas; por solidariedade europeia parámos para perguntar se necessitavam de alguma coisa. Que não que estava tudo bem, que eram alemães, que vinham DE BERLIM E SEGUIAM EM DIRECÇÃO AO SENEGAL!!!!!! Ficámos tão estupefactos que nos esquecemos de perguntar outros detalhes; depois de os abastecermos em bebidas frescas e de fazermos umas fotos continuámos o nosso caminho pensando nas “toneladas” de coisas inúteis que transportamos para fazer uma viagem muito mais pequena.
De Laâyoune para o Sul a viagem tornou-se um pouco mais complicada. O Sahara está à nossa esquerda (e, por vezes, dos dois lados) e o vento constante e violento faz com que grandes quantidades de areia atravessem a estrada e por vezes se acumulem. Já dá para ter um pouquinho da percepção do que é o deserto.
Cruzámos uma estrutura que é uma curiosidade: um tapete transportador que traz fosfatos de uma mina do interior para embarcar no porto de El Marsa, percorrendo mais de 100 quilómetros.
Passámos por porções da costa que se tornaram todas brancas, pois o mar ao retirar-se e devido à forte evaporação, deixa enormes quantidades de sal.
Chegámos finalmente a Boujdour, decidindo interromper aqui a descida para o Sul. A intenção de ir a Dakhla (ex Villa Cisneros) é contrariada pelas condições atmosféricas e não queremos tentar a sorte. Vamos iniciar a nossa lenta subida pela costa que deverá terminar, lá para fins de Junho, em Sebta, Algeciras e Azeitão.
Inch’ Allah:
Sporting de Lisboa?
ResponderEliminarIsso merecia uma explicação....
De Lisboa, é um tal Benfica....isto é, clube de bairro e capital....
Também há um Porto.....clube de cidade
E há UM E SÓ UM que é de Portugal.....chama-se SPORTING CLUBE DE PORTUGAL....
Isso é que era uma explicação bem dada....ai que o Capitão tá falhando....
Um abraço desde Tafraoute