terça-feira, 16 de março de 2010

CARTA À DIRECÇÃO DA ORBITUR

Tomo a liberdade de reproduzir na integra a carta que o companheiro Henrique Fernandes enviou à Direcção da Orbitur e que subscrevo completamente. Queria apenas acrescentar que em algumas das vezes que utilizei aqueles parques constatei que estavam bastante mal adaptados à permanência de autocaravanas. Refiro-me em especial a S. Pedro de Moel e a Montargil.
Cito:
Exmo. Sr. Manuel Dias: 
Serve a presente para informar muito respeitosamente o seguinte:
Tive recentemente conhecimento, através da leitura da edição Barlavento Online, de 12-Março-2010, de algumas declarações de V. Exa., bem como do Sr. Fernando Rocio, a propósito do estacionamento e pernoita de autocaravanas em espaço público, as quais, para melhor facilidade de análise, tomo a liberdade de reproduzir:
Para o presidente da Associação Portuguesa de Empresários de Camping e Hotelaria ao ar livre (Aecamp), o problema está «na falta de fiscalização das autarquias e das autoridades», que deveriam «actuar em conjunto e levar os autocaravanistas a criar valor económico nos parques de campismo». 
De acordo com Manuel Dias, apesar de uma autocaravana poder estar parada num parque automóvel, isso não dá ao condutor o direito de aí pernoitar, uma vez que «está a fazer do transporte um espaço de alojamento» (sublinhado meu).
«Se, por força da lei, os parques de campismo estão obrigados a estruturar-se para receber este tipo de turistas, não se percebe por que têm de continuar a ver o seu negócio na rua», entende o também administrador do grupo Orbitur.
Posição idêntica é manifestada por Fernando Rocio, proprietário de um dos poucos parques algarvios especializado em acolher autocaravanas e o único do concelho de Tavira.
Apesar de garantir ter todas as condições, Rocio diz que a sua ocupação média anda na casa 50 por cento, mas teria condições de ser ampliada «caso as autoridades cumprissem o que está escrito nos regulamentos de trânsito».
Considero que o facto de V. Exa. ser administrador da Orbitur e sobretudo presidente de uma associação do sector, impõe responsabilidades acrescidas aquando da tomada de posições sobre esta matéria.
Discordo totalmente da ideia de que não tenho o direito de pernoitar dentro do meu veículo, seja ele uma Ford Galaxy, um Renault Clio, ou uma autocaravana. Sobretudo quando falamos de autocaravanas, que por sinal são de todos os veículos melhor preparados para o efeito. Dentro do meu veículo existe um espaço de intimidade que só a mim diz respeito e que, por isso, não deve ser invadido por interesses económicos que me são estranhos.
Será que V. Exa. defende também que se eu pretender pernoitar dentro da minha Ford Galaxy numa zona onde não existam parques de campismo, a associação que represente os hotéis e pensões da região deva “pressionar” as autoridades para me obrigarem a instalar-me numa das unidades mais próximas?
Desde que eu cumpra a lei, nomeadamente estacionando o meu veículo sem levantar portadas, estender toldos, dispor mesas e cadeiras, etc., ninguém não tem nada a ver com o que faço dentro dele. 
Sou autocaravanista há 5 anos. A minha autocaravana tem um grau de autonomia elevado, à custa de avultados investimentos. Só para exemplo, disponho de electricidade a 220 V com uma potência de 2000 W, sem necessidade de ligar o motor. Utilizo por isso os parques de campismo (em cerca de 20 % das minhas deslocações) sobretudo por razões de tranquilidade e de repouso, e muito raramente por necessidade de acesso a serviços básicos.
O autocaravanismo é uma prática totalmente diferente do campismo (conheço bem as duas, ainda utilizo tenda, e já tive roulote…). O autocaravanista tem o direito, como toda a gente, a ser campista, mas ninguém tem o direito de o obrigar a sê-lo. 
Se eu fosse empresário de parques de campismo defenderia exactamente o contrário daquilo que foi defendido por V. Exa: a criação em Portugal de inúmeras áreas de serviço e de pernoita exclusivas para autocaravanas (para descarga de águas cinzentas e negras e para abastecimento de água, eventualmente com a possibilidade de abastecimento eléctrico).
Defenderia adicionalmente o direito – mais que natural – de estacionamento e pernoita das autocaravanas fora dessas áreas, desde que respeitados naturalmente os preceitos da legislação aplicável ao estacionamento na via pública. 
Provavelmente até me afoitaria na exploração comercial desse segmento de actividade, em colaboração ou em anexo aos parques de campismo, ou em locais independentes.
Em suma, defenderia a criação de infraestruturas que facilitassem a vida aos autocaravanistas, tornando mais apetecível a migração das pessoas para este segmento de turismo, com benefícios – a longo prazo – para os próprios parques de campismo.
Se em vez das menos de 30 áreas actualmente existentes em Portugal existissem 500 ou 1000, o país teria lá fora uma imagem muito diferente da que vai tendo, e que por sinal não é nada boa no mundo autocaravanista europeu. Nesse caso, em vez dos 37 000 autocaravanistas que rumam ao Algarve, poderiam ser 5 ou 10 vezes mais. E se apenas uma percentagem de entre eles recorresse voluntariamente aos parques de campismo da região, adivinhe V. Exa. quem ficava a ganhar…
Impõe-se questionar V. Exa. se acredita que o Algarve continuaria a receber os tais 37 000 autocaravanistas no caso de a pernoita em parques de campismo passar a ser obrigatória por lei?! 
Ora, com posições como a de V. Exa. e do Sr. Rocio, que considero desprovidas da mais elementar inteligência e perspectiva de longo prazo, apenas se criam condições para dificultar a vida aos autocaravanistas que pretendam visitar o Algarve. A última vez que lá estive não gostei, e por isso foi a última, até que as coisas mudem. O que ganharam afinal os parques de campismo, onde até ia de vez em quando, com esta minha decisão de primar pela ausência?
Passei a viajar pela Europa, onde sou melhor acolhido e onde recorro aos parques de campismo essencialmente para “recarregar baterias”, mas apenas quando quero. É que há por aí mais Algarves e com bem melhores condições do que o nosso para fornecerem a um autocaravanista aquilo que procura. Só em França existem mais de 3000 áreas de serviço para autocaravanas! Também a Espanha começa a ganhar, como em outros capítulos, um avanço que vai arremessar-nos – mais uma vez – para o fundo de uma tabela qualquer. 
Tenho um irmão que é norueguês e também autocaravanista, e que ficou literalmente estarrecido com o panorama que encontrou em Portugal da última vez que cá esteve. Na Noruega, que é só o país há vários anos classificado pelas Nações Unidas em primeiro lugar no capítulo do desenvolvimento humano, é impensável “obrigar-se” uma autocaravana a pernoitar num camping para, por essa via, rentabilizar o negócio de alguém. É dos países da Europa onde os autocaravanistas dispõem de melhores condições e liberdade e onde este segmento representa – também para os parques de campismo locais – maior peso no cômputo geral do turismo… 
Conforme pode ser comprovado pelas facturas em anexo, costumo utilizar o camping da Orbitur na Idanha-a-Nova, junto à barragem Marechal Carmona, promovendo aí agrupamentos de familiares e amigos que rondam as duas a três dezenas de pessoas.
Face às posições públicas assumidas por V. Exa., que considero lamentáveis e dignas de reprovação, vou deixar de frequentar os campings da Orbitur, incluindo naturalmente o da Idanha. Será o fim desses agrupamentos, os quais transferirei com muito gosto para outros locais onde me sinta melhor acolhido.
Estou na disposição de mudar a minha posição quando V. Exa. mudar a sua. Contudo, até esse dia bater-me-ei pela divulgação desta temática, não me poupando a esforços para realçar junto de amigos e de autocaravanistas portugueses e estrangeiros a mesquinhez da situação portuguesa em relação ao que vou vendo lá por fora.
Ficar-lhe-ia muito agradecido se desse conta desta carta ao Sr. Rocio.
Com os melhores cumprimentos 
Henrique Fernandes
Fim de citação

1 comentário:

  1. Ao companheiro Henrique Fernandes os meus parabens, estou solidário consigo pela sua coragem em desabafar a sua mágua e companheiro Haddock obrigado pela divulgação da referida carta que desconhecia. Depois de ter lido a referida carta, custa a crer em pleno século XXI, como é possível criarem condições para dificultarem ainda mais os autocaravanistas, como diz e muito bem, por esta Europa fora temos no geral boas condições e Cidades que se preocupam em espaços livres com condições para os autocaravanistas. Na Nazaré pelas 21:00h parei num parque onde já se encontravam 4 autocaravanas aproveitei e pernoitei essa noite para de manhã seguir viajam, qual foi o meu espanto pelas 08:15 batiam com força na porta da autocaravana levantei-me e deparei-me com a PSP, tinha de sair do parque porque as autocaravanas não podiam estacionar. Indignado com a resposta, perguntei que infração tinha cometido, se não estava mal estacionado, não tinha janelas nem toldo aberto, não tinhas calços no chão nem apoios, não percebia o porque?! Foi-me dito novamente que tinha de abandonar ou corria o risco de ser autuado, acabei por sair para não causar problemas, mas Nazaré nunca mais.

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